quarta-feira, 4 de maio de 2016

ÉPOCA DE 1935/36

PLANTEL

Gustavo, Gatinho, Albino, Gaspar, Valadas, Domingos Lopes, Rogério, Victor Silva, Tavares, Xavier, Torres, Correia, Cardoso, Batista, Pedro Conceição, Guedes, Amaro, Paduco, Manuel de Oliveira








TREINADOR

VICTOR GONÇALVES

MELHOR MARCADOR


VALADAS - 24 Golos

RESULTADOS


PRESIDENTE

VASCO RIBEIRO


A DESPEDIDA DE VICTOR SILVA


Foi para o Benfica um dos maiores veículos de promoção da chama imensa, justificando todos os tostões dos 15 contos que o clube pagou para o ter, inaugurando a era das transferências pagas em Portugal. Nos anos 30, quem era do Benfica, devia-o principalmente ao ciclista José Maria Nicolau ou ao futebolista Vítor Silva, avançado-centro de recursos raros, como a intuição a que um dia Cândido de Oliveira chamou “prodigiosa” ou a elasticidade que o levou a vulgarizar o salto-de-peixe. Marcava golos como respirava: com naturalidade. Foi o que fez na selecção nacional, tanto nos Jogos Olímpicos de 1928, como no apuramento para o Mundial de 1934. E podia ter feito durante mais tempo, não tivesse sido forçado a abandonar a carreira tão cedo, por causa de varizes.


Vítor Silva começou a jogar futebol no Hóquei Clube de Portugal, agremiação modesta de Sete Rios. Destacava-se a tal ponto que, em 1927, do Carcavelinhos veio um pedido de empréstimo do jovem avançado-centro com vista ao Torneio Promoção da Associação de Futebol de Lisboa. Na prova participavam os três grandes da capital, Belenenses, Benfica e Sporting, e a verdade é que Vítor Silva já não pôde voltar ao seu clube de origem: os dirigentes do Benfica ficaram de tal forma maravilhados com ele que deram 15 contos pela sua transferência. Algo até então nunca visto no futebol em Portugal Vítor Silva foi o protagonista da primeira transferência paga no país. Mas o rapaz tinha só 18 anos, pelo que a sua entrada na equipa de honra foi, ainda assim, gradual. Foi fazendo alguns jogos particulares, que na altura eram programa habitual, face à falta de torneios nacionais, e só se estreou oficialmente pela mão de Ribeiro dos Reis, na finalíssima do campeonato de Lisboa de 1927/28. Benfica e Sporting tinham acabado com os mesmos pontos e Vítor Silva era a surpresa do treinador para o jogo de de enfica, o jovem avançado foi chamado
por Cândido de Oliveira para um amigável contra a Espanha, que Portugal empatou a duas bolas, em Lisboa, a 8 de Janeiro de 1928. O primeiro golo pela equipa nacional fê-lo a 15 de Abril, uma semana depois da estreia oficial pelo Benfica, numa vitória por 4-1 frente à Itália, no Campo do Ameal, no Porto. O selecionador não teve, dessa forma, grandes dúvidas em levá-lo aos Jogos Olímpicos de Amesterdão, que decorriam em Maio e Junho. E Vítor Silva correspondeu com um golo em cada jogo: reduziu para 1-2 no jogo frente ao Chile que os portugueses acabaram por vencer por 4-2; abriu o marcador nos 2-1 à Jugoslávia; e fez o golo de honra português na eliminação frente ao Egito (1-2). De regresso da Holanda, Vítor Silva teve entrada directa na equipa do Benfica que foi eliminada do Campeonato de Portugal, nas meias-finais, frente ao Carcavelinhos (mais uma derrota por 3-0), mas só em 1928/29 se tornou a referência do ataque encarnado.


Foi o melhor marcador do Benfica no campeonato de Lisboa (onze golos em dez jogos, com um hat-trick ao Palhavã) de 1928/29, mas os encarnados terminaram a prova a dois pontos do Belenenses, que se sagrou campeão. O mesmo Belenenses afastou as águias do campeonato de Portugal, logo nos oitavos-de-final, deixando Vítor Silva em branco na competição. Na época seguinte, mais onze golos (desta vez em outros tantos jogos) e nova distinção de melhor goleador do Benfica na competição não valeram a Vítor Silva mais do que outro segundo lugar no campeonato regional, outra vez atrás do Belenenses. Outro galo cantaria no Campeonato de Portugal, que o Benfica acabaria por vencer, derrotando na final o Barreirense, por 3-1, após prolongamento.

Vítor Silva, porém, não estaria na fase decisiva da competição, forçado a retirar-se, por doença, a partir de Abril de 1930.

Ainda fez três golos nos 8-1 ao União Operário, em Santarém, no arranque da prova, e esteve nas duas partidas frente ao Casa Pia, nos oitavos-de-final, mas a partir daí cedeu o lugar de avançado-centro a Jorge Tavares. Vítor Silva só voltaria a competir dez meses depois, em Fevereiro de 1931, contribuindo com quatro golos para o modesto quinto lugar do Benfica no campeonato de Lisboa, desta vez ganho pelo Sporting. Já ninguém o parou, contudo, na campanha que deu aos encarnados o bi-campeonato de Portugal: Vítor Silva marcou onze golos em oito jogos, incluindo um bis na final, ganha por 3-0 ao FC Porto, e outro na segunda mão das meias-finais, contra o V. Setúbal.


Os golos seguiam ao ritmo natural: nove no campeonato de Lisboa e três no campeonato de Portugal em 1931/32; onze na vitória benfiquista no campeonato de Lisboa de 1932/33, mais seis no campeonato de Portugal dessa época. Mas nem assim Vítor Silva foi escalado por Ribeiro dos Reis para a estreia portuguesa na qualificação de um campeonato do Mundo. A 11 de Março de 1934, o selecionador preferiu inserir o portista Acácio Mesquita entre os seus colegas de clube Valdemar Mota e Pinga no jogo em Chamartín frente à Espanha. O resultado foi amplo. Portugal perdeu por 9-0, no jogo que teve substituição de guarda-redes (Soares dos Reis por Augusto Amaro) e levou à célebre rábula do “Ponga-los-dos!”, com que os espanhóis gozavam os portugueses, mas a diferença de golos não era determinante, pelo que o selecionador sabia que lhe bastava ganhar o jogo de retribuição para forçar um desempate. Ribeiro dos Reis fez três alterações para o segundo jogo, uma delas a chamada de Vítor Silva ao onze, mas nem o golo do avançado benfiquista – o primeiro de Portugal na qualificação para o Mundial – chegou para a equipa nacional alcançar os seus objectivos. A derrota por 2-1, no Lumiar, levou à eliminação nacional do Mundial de Itália e à constituição de um grupo de reflexão para se ver o que se fazia mal por cá. Decidiu-se que o futebol português precisava de mais competição e foi então criado o campeonato da Liga, a primeira prova por jornadas a nível nacional, que devia começar em Janeiro de 1935.

Vítor Silva não esteve na primeira equipa que o Benfica apresentou nessa competição e que ganhou em casa ao V. Setúbal, por 3-1.

Estreou-se na competição uma semana depois, a 19 de Janeiro, marcando o primeiro golo benfiquista no empate frente ao U. Lisboa (2-2). Fechou a primeira Liga com sete golos, abaixo dos totais de Valadas e Torres, vindo depois a marcar mais seis no campeonato de Portugal. Desses, três foram ao Boavista, num jogo em que o guardião axadrezado Janos Biri (que mais tarde veio a ser treinador do Benfica) chocou contra um poste, fraturando a clavícula, e que gerou um clima de animosidade na partida de retribuição. Vítor Silva foi forçado a sair de campo na segunda mão, por causa de uma entrada mais rude, e em resultado disso falhou algumas partidas na vitória encarnada nessa edição do campeonato de Portugal. Foi o caso da final, ganha ao Sporting (2-1) em Junho, mas com Torres a jogar como avançado-centro.


A debater-se já com problemas nas pernas (varizes) Vítor Silva ainda fez mais uma época no Benfica. Marcou mais sete golos no campeonato, os últimos a 5 de Abril de 1936, num vitória por 5-1 frente ao FC Porto na qual bisou. A 27 de Fevereiro desse mesmo ano despedira-se da seleção nacional com mais um golo, na derrota por 3-1 frente à Alemanha, em Lisboa. Depois disso, a 19 de Abril, ainda teve uma experiência diferente, quando teve de jogar à baliza desde o segundo minuto de um jogo com a Académica por lesão de Cândido Tavares. A vitória por 3-1 permitiu ao Benfica manter a liderança do campeonato, a par do Sporting, numa Liga que se decidiu uma semana depois: os encarnados venceram os leões por 3-1 e fizeram a festa a uma jornada do fim. Vítor Silva ainda esteve no empate frente ao Boavista (2-2), na última jornada, marcando mais quatro golos na campanha que levou o Benfica às meias-finais do campeonato de Portugal. O seu último jogo oficial foi precisamente o da eliminação, frente ao Belenenses (1-2), a 28 de Junho de 1936. Três meses depois, teve direito a uma festa de homenagem, em amigável frente ao Sporting, passando a desempenhar, aos 27 anos, funções directivas no clube pelo qual fez 94 golos em 130 jogos oficiais.


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