terça-feira, 7 de junho de 2016

GRANDES NOMES

LUCIANO


Defesa central de grandes recursos técnicos, ingressou no Benfica na época de 1963 / 64 proveniente do Olhanense. Para muitos era o "novo" Germano.

Em Dezembro de 1966, o universo benfiquista ficou abalado e chocado com a notícia da morte de Luciano, devido a um curto-circuito ocorrido durante uma sessão de hidromassagem no Estádio da Luz. Só a pronta intervenção de Jaime Graça ( que tinha sido electricista ), evitou que Eusébio tivesse o triste fim do seu colega de equipa.

Sagrou-se três vezes campeão nacional e conquistou uma Taça de Portugal. A nível das competições europeias só efectuou três jogos pelo Benfica ( todos eles na época do seu ingresso no clube da Luz ).

Foi internacional pela selecção de "Promessas" num Portugal - Grécia disputado no Estádio Nacional e que se saldou numa vitória "lusa" por 2 - 1.

A MORTE DE LUCIANO

Luciano Jorge Fernandes nasceu a 6 de agosto de 1940 e morreu numa manhã de dezembro de 1966, no Estádio da Luz, há 47 anos. Tinha 26 anos. Foi um acidente horrível, um curto-circuito numa banheira de massagens. Ainda hoje José Augusto se emociona ao recordar aqueles momentos. «Lembro-me de tudo desse dia fatídico.»
 
O Benfica tinha jogado em casa da Sanjoanense a 4 de dezembro. Aquele era dia de treino de recuperação. «À terça-feira havia sempre banhos e massagens, no tanque», evoca José Augusto. «Naquele tempo não havia jacuzzi ou saunas como hoje. Era um aparelho que se colocava dentro de água e se ligava à eletricidade, para agitar a água e fazer o efeito de massagem.»
 E então, aconteceu. «O cabo do aparelho era curto, fez-se ali uma extensão e isolou-se a extensão. Mas a condensação que criava o vapor da água caiu sobre a zona do isolamento e provocou aquilo, penso que tenha sido isso.»

José Augusto não estava na banheira, estava no balneário, a preparar-se para se juntar aos companheiros. «Quando ouvimos uma enorme gritaria fomos a correr.» Já ninguém pôde fazer nada por Luciano. «Era ele que estava a segurar o aparelho, levou a carga maior.» 
«O Luciano teve morte praticamente instantânea. O doutor Azevedo Gomes ainda tentou, fez-lhe duas punções diretamente no coração, mas não adiantou.»

José Augusto interrompe a narrativa. «Estou a lembrar-me disto e a emocionar-me. O Luciano era um jovem. Era uma jóia de colega. Estava a afirmar-se no Benfica, a tornar-se titular, com hipóteses de internacionalização.»

Luciano, defesa-central, tinha chegado ao Benfica em 1963, depois de ter representado o Olhanense, na cidade onde nasceu. Nessa época tinha feito cinco jogos em nove para o campeonato, ao todo tem 40 jogos com a camisola encarnada.

De volta ao Estádio da Luz, naquele dia. Os outros jogadores que estavam na banheira conseguiram fugir a tempo. Alguns sairam ilesos, outros muito combalidos. José Augusto: «O Malta da Silva esteve até às cinco da tarde com espasmos. O Carmo Pais recuperou mais depressa.»

Para evitar uma tragédia ainda maior valeu a intervenção de Jaime Graça. O antigo médio, que também estava no tanque, tinha sido aprendiz de eletricista em Setúbal e reagiu depressa.

Há dois anos, pouco antes da sua morte, Jaime Graça recordava assim aqueles momentos, em entrevista ao jornal I: «Fui rápido e decidido. Desliguei o quadro. Aqueles que estavam no fundo no tanque foram os que mais sofreram, como o Carmo Pais e o Malta da Silva. O Camolas, por exemplo, fugiu para o relvado. Veja lá, tão grande foi o susto. Ainda hoje quando me vê, o Malta da Silva faz questão de me apresentar como o homem que lhe salvou a vida. Ele e o Carmo Pais sofreram muito e tiveram de estar duas horas deitados no chão, a serem inspecionados pelos médicos.»


Jaime Graça contava que Eusébio se encontrava igualmente na banheira. «Também estava nesse tanque. Quando aconteceu, ele até ficou branco. Nem falava, tal era o susto.» Para a memória coletiva, o médio falecido em fevereiro de 2012 foi muitas vezes recordado como o homem que salvou a vida a Eusébio.

Daqueles tempos, todos recordam de resto a enorme cerimónia de homenagem que foi o funeral de Luciano, em Olhão. A equipa do Benfica seguiu a acompanhar o corpo e a viagem foi impressionante, diz José Augusto: «Estava muita gente por todo o lado. Em Alcácer, em Grândola, em todo o lado por onde passámos. Depois, em Olhão, foi uma coisa impressionante.»

O Benfica foi campeão nacional nessa época. José Augusto não recorda uma homenagem especial do clube a Luciano, mas diz que ele próprio se deslocou à campa do antigo companheiro nesse verão. «Fui ao cemitério em Olhão depositar umas flores. Fi-lo em meu nome e no de todos os companheiros.»

Luciano, três vezes campeão nacional e vencedor de uma Taça de Portugal, é uma história trágica como houve mais no futebol português, mas bem menos presente nas recordações do que as mortes de Pavão ou de Fehér. Hoje, a sua memória perdura na casa do Benfica de Olhão, que tem um espaço dedicado ao filho da terra. Botas, bolas, troféus, objetos com história cedidos pela família de Luciano.

Sem comentários:

Enviar um comentário