domingo, 15 de maio de 2016

GRANDES NOMES

ÂNGELO MARTINS



Ângelo Gaspar Martins, nasceu no Porto a 19 de  Abril de 1930

Do prelo de Ângelo Martins saíram algumas das melhores criações do Benfica. Ele era um burilador de diamantes, criador de craques. Mostrou sempre cartão vermelho à incompetência. As suas impressões digitais podiam ver-se em Humberto Coelho ou Nené, Alves ou Jordão, Artur ou Shéu, Vítor Martins ou Chalana. E tantos, tantos outros.
Se benficómetro houvesse, atingiria o limite dessa ardência que vida fora o acompanhou. Ele foi também jogador brioso, na combinação da técnica com a velocidade, da força com a resistência. Ele que ganhou todas as competições possíveis a nível de clubes. Todas? “Excepção feita à Taça Intercontinental, que se me escapou, para mal dos meus pecados”, confessa, assim como quem pede remissão.
 O pai era sapateiro, numa travessa das Antas. Ângelo caracterizava-se por uma irrequietude sem limites e pelo a pego à trapeira. Já exibia dotes apreciáveis, quando gritava “sou do Benfica”, sempre que o confrontavam com a hipótese de fazer carreira no FC Porto. Ainda garoto, jogou no Académico. Três anos depois do debute seria irradiado.
Funcionou a cruel justiça federativa, já que havia assinado duas fichas, uma pelo Académico e outra pelo FC Porto.
“Foi um dirigente portista que me enganou, dizendo que tinha tudo tratado com o meu clube”. Ingénuo foi.
 Já não sonhava com os terraços da bola, quando cumpria serviço militar em Santarém. Tinha 20 anos, mas dele se falava ainda. O Benfica manifestou interesse em recrutá-lo, comprometendo-se a diligenciar o levantamento da irradiação. 
Demorou alguns meses, mas as instâncias superiores condescenderam. Era jogador do Benfica, do clube da sua devoção. Na época de 52/53, provou que jamais poderia ser um dissidente dos jogo, ao lado de Artur, Moreira, Caiado, Rogério, Félix, Arsénio, Águas e Corona. 
Com esse e outros companheiros muito contribuiu para por termo ao reinado dos Cinco Violinos do Sporting. A tarefa foi árdua, mas a soma de onze indómitas vontades, domingo a domingo, a tanto conduziu. E esse Benfica, o Benfica dos anos 50, lançavam as sementes que germinariam na década seguinte, a década da glória, do mítico clube da águia. “Como espero jogar ainda muitos anos, é possível que possa enriquecer bastante o meu álbum”, dizia Ângelo, em 1957. 
Aprendeu muito com Otto Glória, mas com Bela Guttmann chegaria ao cume. Era já lateral, sobretudo na faixa canhota, ele que havia começado a médio, quase indistintamente à direita ou à esquerda. “Rompe-se todo e morde a relva em sinal de alegria ou de desespero”, retratavam-no à época. Foi bicampeão da Europa, venceu sete Campeonatos e cinco Taças de Portugal. Despediu-se em Guimarães, frente ao Vitória local, em Maio de 1965, após 13 temporadas consecutivas no Benfica. A dedicação ao clube, o irreplicável profissionalismo e os conhecimentos adquiridos conduziram-no à estrutura técnica do futebol juvenil. Montou a sua oficina com o jeito dos predestinados, deu-lhe o cunho dos dotados, o prazer dos apaixonados e a glória dos jubilados. Venceu sete Campeonatos Nacionais de juniores, seis de juvenis e dois de iniciados.
 A loja do mestre Ângelo fabricou talentos em série, passe o contraditório. “Claro que sinto um enorme orgulho por ter trabalhado com muitos miúdos que garantiram um lugar ao sol no panorama do futebol português e até internacional. Não se pense, porém, que o mérito foi meu. Muitos contribuíram, desde logo eles próprios, mas é o Benfica e só o Benfica a justificar os louros”. As camisolas berrantes das últimas gerações devem muito a Ângelo. Ao seu exemplo. Ao seu esforço. À sua competência. Por isso também garantiu um lugar cativo, lugar destacado, na historiografia benfiquista.
 Jogava com o número 3, esteve 13 épocas no Benfica de 1952 a 1965, fez 284 jogos e marcou 4 golos, venceu 7 Campeonatos Nacionais, 5 Taças de Portugal e 2 Taças dos Campeões Europeus

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